A ciência demonstra-nos que o modelo de “desenvolvimento” que temos adoptado ao longo das últimas gerações, do qual o capitalismo e o paradigma de crescimento contínuo têm sido motores, empurrou-nos para o pré-colapso ecológico. E, em boa verdade, os resultados deste “desenvolvimento” não são os prometidos. Continuamos com desigualdades sociais e económicas gritantes, produzimos e consumimos inúmeros bens e serviços que não trazem nenhum valor acrescentado à nossa vida, maioritariamente devido a uma gigantesca máquina de propaganda consumista alimentada pelo sector do marketing e da publicidade, reforçamos uma sociedade egocêntrica, individualista e competitiva, e, por fim, desconsideramos a vida de milhares de milhões de outras espécies que connosco habitam o planeta.
Porém, nunca houve na História da Humanidade, mesmo com tanto desperdício de recursos (humanos, económicos e tecnológicos), tantos bens, serviços e conhecimento. Não obstante existem alguns fenómenos que condicionam a transição para uma economia descarbonizada que funcione para as pessoas, para os restantes animais e, sobretudo, para os ecossistemas.
Primeiro a ideia que temos que fomentar um modelo de consumo infinito para manter a economia a funcionar. Esta ideia que precisamos continuamente de crescer, para criar empregos, para aumentar o consumo, para ter mais rendimentos, para depois continuar o ciclo de produção e consumo não é só irreal, é suicida. Num mundo de recursos finitos, mas onde a tecnologia nos permite cada vez mais ter custos marginais perto de zero, ou seja, onde o acesso é cada vez maior a um número exponencialmente mais elevado de pessoas, é contraproducente manter um sistema económico que restringe este fenómeno (ter mais, de modo mais eficiente, por menos). Mas esta transformação, já em curso de modo acelerado, vai agravar tensões sociais e económicas devido à contínua concentração de riqueza e recursos. A digitalização, a automatização, a robotização e o uso de Inteligência Artificial, se bem gerida, ajudar-nos-á à transição para uma sociedade mais eficiente. Se bem gerida, claro. O que devemos considerar é o financiamento desta substituição de emprego humano por máquinas, taxando a sua substituição e produtividade. Deste modo conseguiremos ter uma rede de segurança social e económica para os milhões de novos desempregados tecnológicos. Aqui entra a implementação de um Rendimento Básico Incondicional (RBI) para todos (não aprofundarei este tema mas podem encontrar toda a informação no documentário que produzi em www.rbidoc.com). Esta rede, o RBI, permitirá também adaptar o mercado do trabalho à real economia diminuindo a necessidade de trabalhos precários ou mal pagos, garantindo mais tempo para o que é realmente importante. O crescimento pessoal e comunitário.
Seguidamente temos que priorizar o tempo que é efectivamente o mais importante nas nossas vidas. O tempo. Com a garantia de um estado social mais eficiente, mais redistributivo, que aposta na transparência e abertura das suas instituições, onde o combate à corrupção e ao clientelismo é mais eficaz, conseguiremos vislumbrar os proveitos de colectivamente investirmos na educação, na saúde, na democracia e na regeneração dos ecossistemas. Com a implementação de políticas públicas que não estejam reféns do modelo de crescimento podemos garantir uma rápida transição para um modelo económico mais real que internaliza os reais custos económicos e sociais da produção de bens e serviços.
É nesse campo que eu, e os Verdes/Aliança Livre Europeia, estamos a trabalhar no Parlamento Europeu. Para garantir que existem políticas públicas Europeias e nacionais, que efectivem a transição para um modelo descarbonizado, mais equitativo e democrático, onde todos redefinimos as prioridades societais. Mas para isso não podemos desistir da política pois ela representa a nossa sociedade e só unidos, acto a acto, voto a voto, conseguiremos travar o colapso ecológico da nossa sociedade.