COVID-19: Empresas marítimo-turísticas do Algarve preocupadas com verão

ouvir notícia

As empresas marítimo-turísticas que operam na região estão com a atividade totalmente parada e com fracas perspetivas para o verão que se aproxima, receando que uma retoma demasiado gradual se transforme em mais de um ano sem faturação.

“Nós só conseguimos trabalhar a sério durante quatro meses. O resto do tempo é para cobrir as despesas mínimas”, desabafa o proprietário de uma empresa de mergulho, Mário Silva, citado pela agência Lusa.

O proprietário, há cerca de uma década, decidiu apostar este ano em “passeios marítimos de luxo” e investiu “cerca de 600 mil euros em dois barcos”, confessando não saber quando irá “conseguir recuperar” o investimento.

- Publicidade -

“Se não arrancarmos esta temporada, só vamos trabalhar a partir da Páscoa do ano que vem, na melhor das hipóteses. Estamos a falar de um ano e meio sem faturar para garantir as despesas da empresa”, afirma o empresário.

Em fevereiro deste ano, Mário Silva já tinha reservas para “umas semanas bem compostas em julho e agosto, num valor de 150 mil euros”, quantia que já teve de “devolver aos clientes”.

Pedro Bacalhau é proprietário de 12 barcos de passeio nos quais transportou o ano passado cerca de 120 mil pessoas, entre passeios, atividades de desportos náuticos, eventos corporativos ou casamentos. “Agora estão parados na marina”, lamenta.

O empresário refere que “a dinâmica da atividade no Algarve faz com que março seja a pior fase de liquidez e tesouraria”, sublinhando que logo no início desse mês “surgiram muitos cancelamentos”.

“Temos feito investimentos todos os anos, sempre com recurso à banca, se não faturarmos nesta temporada temos de continuar a endividar-nos. Neste momento não sei se é comportável continuar o endividamento”, argumenta Pedro Bacalhau.

Há duas semanas candidatou-se ao apoio excecional no âmbito da crise epidémica da COVID-19, mas defende que estas medidas “deveriam ter moratórias mais prolongadas” e que as “exigências das linhas de créditos têm de ter em conta a sazonalidade do Algarve, que vai ser muito mais acentuada este ano”, alerta.

É essa sazonalidade a grande preocupação destes empresários, já que alguns mantêm “uma operação residual de novembro a fevereiro”, para poderem garantir “uma estrutura profissional que dê resposta a uma operação complexa no verão”.

No caso de Pedro Bacalhau são 56 as pessoas “que dependem da faturação da temporada média e alta”.

Carlos Vieira centrou a sua atividade em motos de água, gaivotas e passeios de paraquedas em barco, e alerta para o facto de 80% das empresas algarvias dependerem diretamente ou indiretamente do turismo.

“Isso quer dizer que deixaram de faturar em outubro do ano passado e só se prevê faturação significativa em junho de 2021, sendo que há um estudo a colocar o início da retoma apenas em 2022. Será, pelo menos, uma travessia no deserto de um ano e meio”, destaca. 

O empresário, que é também membro da direção da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos (APECATE), argumenta que as medidas anunciadas até agora “não são suficientes” porque, no caso algarvio, as “carências vão terminar quando as empresas estiverem descapitalizadas”.

“É necessário o lay off para os sócios gerentes, medidas de redução de IRC e Segurança Social nos próximos dois ou três anos e reduzir o IVA de forma permanente para os 6%, como acontece na maioria dos países da concorrência”, aponta.

Já a pensar na retoma da atividade, Carlos Vieira revela que a APECATE “está a preparar um manual de boas práticas” para que as empresas saibam “de que forma podem trabalhar protegendo os seus clientes e funcionários”, já que “nada vai ser como dantes”.

- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.