Exposição reconstrói momentos da história de VRSA

Uma nova exposição está patente ate ao final do mês de março no Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes, que pretende "apresentar Vila Real de Santo António enquanto vila régia artilhada contra Ayamonte", segundo disse ao JA o historiador Fernando Pessanha

ouvir notícia

O primeiro andar do Arquivo Histórico Municipal conta agora com uma exposição, baseada num trabalho de investigação que Fernando Pessanha tem desenvolvido ao longo dos anos, onde se apresentam uma série de documentos que permitem reconstruir a história de Vila Real de Santo António, desde a sua construção até à Grande Batalha do Guadiana e às Invasões Francesas.

Estes documentos cartográficos, anteriormente apresentados numa coleção de postais e num artigo publicado na última edição das Jornadas de História de Ayamonte, foram identificados ao longo dos últimos anos em vários arquivos nacionais, nomeadamente, nos arquivos militares.

Um dos grandes destaques desta exposição são as vistas de José de Sande Vasconcelos, de 1774, “que nos dão conta do estado de construção da Vila de Santo António de Arenilha”, segundo disse ao JA o também técnico da autarquia vilarrealense.

- Publicidade -

A exposição começa pela documentação que representa o quartel de Vila Real de Santo António, que naquela época ficava localizado onde atualmente é Centro Cultural António Aleixo, “que, afinal de contas, é o primeiro edifício a ser construído, juntamente com outro das Reais pescarias, e não a Alfândega, como até agora se pensava.

Seguem-se representações dos fardamentos da tropa que estava estabelecida em Vila Real de Santo António, uma vez que “quando se dão as festividades da fundação, em 13, 14 e 15 de maio de 1776, estiveram aqui quatro regimentos: Regimento de Infantaria de Lagos, Regimento de Infantaria de Faro, Regimento de Cavalaria de Castelo Branco e o Regimento de Artilharia do Algarve, que aqui deixou um destacamento, pois naturalmente não se ia construir uma vila criada de raiz para ficar à mercê do corso e da pirataria, não estando guarnecida com tropa”.

Estas representações dos uniformes dos militares estabelecidos em Vila Real de Santo António foram identificadas na Biblioteca Nacional de Espanha, “que deve ter ido lá parar através de espionagem”, segundo disse Fernando Pessanha ao JA.

A exposição continua com a cartografia de José de Sande Vasconcelos, com um projeto para a construção de um forte que deveria ter ficado localizado na zona da Ponta da Areia, “cuja tipologia segue de perto a da fortaleza de Cacela Velha”.

“É um forte com guarnição para 100 soldados, o que revela que existiu um projeto de transferir o quartel do Centro Cultural António Aleixo para a Ponta da Areia, mas foi um projeto que nunca veio a ser concretizado. Não saiu do papel muito provavelmente em função de mais que prováveis constrangimentos económicos”, explica.

Alguns anos depois surge outro projeto, também presente nesta exposição, com a assinatura de um discípulo de José de Sande Vasconcelos, chamado Eusébio de Sousa Tavares, que idealiza outra fortaleza para a Ponta da Areia em 1799, “ainda mais monumental do que o projeto do seu mestre”.

Organizada cronologicamente, a exposição continua até à Carta Militar oferecida pelo príncipe regente, “que nos dá conta da disposição das tropas portuguesas e espanholas por ocasião da Grande Batalha do Guadiana, que tem lugar em 8 de Junho de 1801, no contexto da Guerra das Laranjas”.

“É uma peça lindíssima e extremamente importante quer do ponto de vista artístico, quer do ponto de vista
historiográfico, porque tem todo um conjunto de informações que são extremamente pertinentes. É uma fonte imprescindível para a reconstituição deste episódio da nossa história”, conta.

Nesta peça estão representadas as “oito lanchas canhoneiras espanholas que saíram do esteiro de Ayamonte e que tentaram fazer a invasão do Algarve, tentando neutralizar as baterias de artilharia de Vila Real de Santo António, para depois ser feito o desembarque da infantaria no território português”.

“As lanchas espanholas não conseguiram cumprir os seus objetivos, muito em função da operacionalidade dos artilheiros portugueses que deram luta e, inclusivamente, os artilheiros que estavam estacionados na bateria da Carrasqueira mataram o comandante da artilharia espanhola, o que fez com que as tropas espanholas ficassem desorganizadas e sem comando”, conta Fernando Pessanha ao JA.

Após este acontecimento, o então governador de Vila Real de Santo António, o tenente-coronel José Lopes de Sousa, mandou “bombardear massivamente Ayamonte, o que fez com que a tropa fugisse e a população tivesse de ser evacuada”.

A exposição inclui ainda um plano das baterias e de outros aquartelamentos militares de Vila Real de Santo
António, datados entre 1805 e 1807, para além de outro documento que nos mostra como realmente ficou a fortificação da Ponta da Areia: “foi uma solução muito mais barata, comparativamente aos outros projetos, com apenas um baluarte. Foi já construída no ano de 1809, em pleno contexto da Guerra Peninsular”.

Continuando a exposição, é possível observar outros documentos da autoria do mesmo engenheiro militar, Baltazar de Azevedo Coutinho, “que faz uma planta profundamente detalhada da bateria da Carrasqueira e da bateria do Pinheiro”, segundo Fernando Pessanha.

Quase a terminar, seguindo a ordem cronológica, está patente a representação da bateria do Medo Alto, na altura das Invasões Francesas, época em que “Baltazar de Azevedo Coutinho esteve como responsável pelo restauro e reconstrução das baterias de artilharia da foz do Guadiana”.

Para terminar a exposição, são apresentados os uniformes dos engenheiros militares que construíram a vila régia artilhada contra Ayamonte.

“Em traços gerais, esta é a viagem que os nossos visitantes podem fazer por algumas das fontes cartográficas relativas a Vila Real de Santo António e que se encontram espalhadas por arquivos portugueses e espanhóis. Aqui estão reunidas, para contemplação dos nossos visitantes”, conclui o historiador vilarrealense.

A exposição é de entrada livre e pode ser visitada durante o mês de março.

- Publicidade -
spot_imgspot_img

Deixe um comentário

+Notícias

Exclusivos

Deixe um comentário

Por favor digite o seu comentário!
Por favor, digite o seu nome

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.