Extrema-direita é primeira força política na região

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O Chega foi o partido mais votado no Algarve nestas eleições legislativas, que deram uma vantagem curta à Aliança Democrática (AD) - 79 deputados contra 77 do Partido Socialista (PS). O partido liderado por André Ventura somou um total de 64.228 votos no distrito, mais 4105 votos do que o Partido Socialista (PS), segundo dados da Secretaria-Geral do Ministério de Administração Interna - Administração Eleitoral

A vitória do Chega no distrito de Faro, com 27,19% dos votos, foi a surpresa da noite eleitoral no Algarve e pôs termo à maioria que o PS detinha desde 2015, acabando a AD na terceira posição.

Com 64.228 votos, o partido de André Ventura conquistou três deputados, e os socialistas, que obtiveram 25,46 % (60.123 votos), perderam dois dos cinco eleitos que tinham conseguido em 2022, enquanto a AD fechou o total de nove representantes do distrito com outros três eleitos, ao conseguir 22,39% (52.885 votos).

Assim, pelo círculo eleitoral de Faro, o Chega elegeu os deputados Pedro Pinto, João Graça e Sandra Ribeiro; o PS elegeu Jamila Madeira, Jorge Botelho e Luís Nunes; e a coligação PSD/CDS/PPM elegeu Miguel Pinto Luz, Cristóvão Norte e Ofélia Ramos.

Sem qualquer representação ficaram Bloco de Esquerda, em quarto, com 5,75% (13.579 votos), Iniciativa Liberal, quinta força, com 4,56 % (10.761 votos), e CDU, sexta força, com 3,18% (7.518 votos), que foi ultrapassada pela formação Rui Rocha.

Na sétima, oitava e nona posições ficaram o Livre (2,75%, 6.501 votos), o PAN (2,58 %, 6.098 votos) e o ADN (2,09 %, 4.926 votos), respetivamente.

Mas a surpresa da jornada foi dada pela Chega, que voltou a apostar em Pedro Pinto como cabeça de lista por Faro e passou da terceira para a primeira posição, aumentando a representação no parlamento de um para três deputados.

Na esfera nacional, o Chega quadruplicou o número de deputados eleitos face às últimas eleições legislativas, em 2022, e ultrapassou um milhão de votos, o que levou o presidente do partido a falar num “resultado histórico” e a insistir em integrar uma solução de governo.

Fonte: MAI/CNE

Jamila Madeira e Pinto Luz não convencem eleitores
Em sentido oposto, o grande derrotado da noite no Algarve foi o PS, que repetiu Jamila Madeira como primeira candidata e não foi além da segunda posição, depois de em 2022 ter conquistado uma maioria absoluta, com 39,87% e cinco dos nove deputados.

A escolha de Miguel Pinto Luz, vice-presidente do PSD, para encabeçar a lista da AD no Algarve parece não ter obtido o melhor acolhimento por parte do eleitorado do distrito de Faro, que deu à coligação PSD/CDS-PP/PPM um resultado mais baixo do que o alcançado pelo PSD, sozinho, em 2022 (24,35%), embora com os mesmos três deputados.

BE e CDU continuam sem deputado regional
O Bloco de Esquerda manteve o quarto posto de 2022, mas voltou a não conseguir eleger José Gusmão, depois de, nas últimas eleições legislativas, há dois anos, ter perdido o deputado que tinha por Faro desde 2009.

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Também sem representação pelo Algarve vão continuar a IL e a CDU, mas os liberais têm a satisfação de terem trocado de posição com a coligação formada por PCP e PEV, que desceu dos 4,81% em 2022 para 3,18 de hoje.

Com um universo de 382.586 inscritos, expressaram o seu sentido de voto no distrito de Faro 61,74% dos eleitores, tendo sido registados 1,44% de votos brancos e 1,18% de votos nulos.

A abstenção baixou dos 48,74% registados há dois anos para os 38,26%.

Recorde-se que já nas últimas eleições presidenciais, em 2021, se verificava a tendência de crescimento do Chega no Algarve. Nessa altura, André Ventura foi o segundo mais votado (16,69%) para ser eleito Presidente da República. Na região, Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com 57,33% dos votos.

Albufeira teve a segunda maior percentagem de votos do Chega
Entre os dez concelhos nos quais o Chega obteve melhores resultados cinco situavam-se no Algarve. A maior percentagem de votos registou-se no concelho de Elvas, distrito de Portalegre, com 36,53% (4.150 votos). Seguem-se os concelhos de Albufeira, Lagoa e Portimão, com 32,61% (6.774 votos), 31,14% (4.022 votos) e 30,53% (9.705 votos), respetivamente. Entre os concelhos nos quais conseguiu melhor resultado destacam-se ainda Silves com 29,98% (4.902 votos) e Olhão, com 29,33% (6.625 votos).

Vitória “tímida” da AD
No domingo, dia 10 de março, a AD somou 79 deputados contra 77 do PS. Segundo dados provisórios, quando ainda estão por apurar os quatro deputados da emigração, a AD (que junta PSD/CDS-PP e PPM no Continente e nos Açores) elegeu 76 parlamentares, a que se somam três obtidos por PSD/CDS-PP na Madeira, correspondentes a 29,49% dos votos, que poderá ser a uma percentagem mais baixa numa vitória dos sociais-democratas.

Só em 1985, em que também houve um terceiro partido com uma forte votação – o PRD então, agora o Chega – o PSD tinha vencido com uma percentagem semelhante, 29,87% e 88 deputados, quando a Assembleia da República tinha 250 parlamentares em vez dos atuais 230.

As duas coligações lideradas pelo PSD conseguiram 79 eleitos – dos quais 77 sociais-democratas e dois do CDS-PP – e 1.810.871 votos, cerca de 50 mil a mais do que o PS, que elegeu, por enquanto, 77 deputados.

A confirmar-se a vantagem, depois de apurados os círculos da Europa e Fora da Europa, o regresso à chefia do Governo do PSD parece assegurado com a garantia do secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, de que os socialistas não votarão qualquer moção de rejeição, embora recusando ser suporte de um executivo minoritário no parlamento.

Montenegro não detalhou ainda os cenários de governação possíveis, reiterando que cumprirá a sua palavra de não fazer entendimentos com o Chega, mas sem excluir este partido do diálogo que quer ter com todas as forças políticas para executar o seu programa.

O Presidente da República vai ouvir até dia 20 os partidos e coligações que obtiveram representação parlamentar nas eleições legislativas antecipadas de domingo, começando pelo PAN e terminando na AD.

Os deputados eleitos em março 2024

Vitória reflete “trabalho de proximidade”
O presidente do Chega/Algarve, João Graça, considerou que o resultado eleitoral na região, que permitiu ao partido eleger três deputados, reflete o trabalho de proximidade desenvolvido pelas estruturas partidárias locais ao longo de dois anos.

“O resultado é fruto do trabalho junto das pessoas que fizemos nos últimos dois anos, onde, juntamente com o único deputado que elegemos em 2022, percorremos todos os concelhos e as 67 freguesias algarvias”, disse o presidente do Chega/Algarve.

Para João Graça, eleito pelo círculo eleitoral de Faro, o trabalho de proximidade desenvolvido pelos militantes no terreno “fez com que as pessoas fossem sentindo que existia uma alternativa política para defender os seus direitos e resolver os seus problemas”.

“A vitória é expressiva e estamos muito satisfeitos com o resultado, porque há 33 anos que não havia outra força política, sem que fosse o PS ou o PSD, com tanta expressão no Algarve”, notou.

Segundo o dirigente regional, “as propostas do Chega foram também chegando às pessoas através do jornal [do partido], meio que permite estar todas as semanas na rua, nomeadamente nos mercados e em contacto direto com as populações”.

“Visitámos centros de saúde, escolas, postos da PSP e da GNR, associações de pescadores, agricultores e outros setores da economia onde apresentámos as nossas propostas e penso que foi aí que fizemos toda a diferença”, sublinhou.

Na opinião de João Graça, as pessoas “perderam a vergonha de falarem e de verem no Chega um partido que pode fazer a diferença”, o que se refletiu na votação.

“Deixámos de ouvir as pessoas dizerem que lá vêm eles pedir o voto, porque estamos na rua quase todas as semanas. Penso que foi este grande trabalho de proximidade que foi refletido nos votos”, realçou.

O dirigente regional do Chega acrescentou que o partido “tinha esperança de eleger o quarto deputado”, lamentando não o ter conseguido “por apenas 1.500 votos”.

“Os problemas na saúde, educação, agricultura, economia e a queda do Governo contribuíram, certamente, para a insatisfação das pessoas e o desejo de mudança”, concluiu.

PS admite que resultado “não corresponde a expectativas”
Luís Graça, presidente do PS/Algarve, admitiu que o resultado eleitoral na região “não corresponde às suas expectativas”, apesar da vitória em 10 dos 16 concelhos, depois de ter perdido dois dos cinco deputados eleitos em 2022.

“A Federação do PS não pode deixar de sinalizar que o resultado eleitoral não corresponde às suas expectativas, apesar da vitória verificada na maioria dos concelhos do Algarve e de ter ficado à frente da Aliança Democrática em 14 dos 16 municípios”, lê-se numa nota enviada por Luís Graça.

Luís Graça realça que o PS “regista, com humildade democrática, o aumento dos sinais de insatisfação e de protesto que impõem a todos os democratas e, em particular, aos socialistas, reflexão e redobrada determinação” em vários setores da sociedade.

Entre eles, adianta, está o combate às desigualdades sociais, promoção das qualificações dos jovens e de emprego de qualidade e a devida inserção social dos mais frágeis e desprotegidos, realça.

O dirigente regional assegura que os eleitos socialistas vão trabalhar no parlamento “de forma a honrar a confiança” que os algarvios depositaram, prometendo “forte vigilância na execução dos projetos e investimentos para a região”, nas áreas da saúde, eficiência hídrica, transportes, habitação, bem como do fim das portagens na Via do Infante.

PSD diz que resultado é sinónimo de “protesto”
O presidente do PSD do Algarve considerou que a vitória do Chega na região representa um voto de protesto num distrito em que as pessoas vivem com “incerteza e insegurança”, ampliadas pelos ciclos económicos.

“As pessoas tanto estão numa perspetiva de realizar os seus projetos de vida com o trabalho, com perspetivas de melhorar a sua vida como, no dia seguinte, com ciclos destes negativos, vão para o desemprego ou a empresa vai à falência”, disse Cristóvão Norte, eleito, em segundo lugar, pela lista da AD.

Cristóvão Norte insistiu que a ampliação de ciclos económicos positivos e negativos “conduz a muita incerteza por parte das pessoas, muita dúvida, muita insegurança” e que “isso leva as pessoas mais facilmente para partidos de protesto [como o Chega], porque elas já não esperam nada, porque estão desiludidas”.

Para chegar a esta conclusão, o social-democrata começou por referir que o Algarve tem uma economia essencialmente assente no turismo, que está “muito exposta a ciclos económicos”, ampliando o impacto dos mesmos.

O deputado eleito deu como exemplo que durante a pandemia de covid-19, a economia do país decresceu 8% e a do Algarve caiu 16%, e quando o país cresce, o Algarve cresce a um ritmo muito mais acelerado, levando isto a que se tenha “incerteza e insegurança” e mesmo “uma certa esquizofrenia na vida das pessoas”.

Mas, para Cristóvão Norte, há uma segunda razão importante para o voto de protesto no Chega, que se prende com “o facto de, em matérias estruturantes para a região, ao longo dos anos, não se terem vindo a assegurar respostas que garantam a realização desses investimentos”.

O líder regional do PSD deu como exemplos a falta de investimentos do Governo para resolver o problema da seca na região, o atraso na construção do Hospital Central do Algarve ou a questão da requalificação da Estrada Nacional 125, para só citar alguns exemplos.

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3 COMENTÁRIOS

  1. O mesmo “terror” da extrema-direita acabou de viabilizar, responsavelmente, o Orçamento Regional, nos Açores, abstendo-se, na sua votação e permitindo a sua aprovação.

    Se, hipoteticamente, tivesse sido o Bloco de Esquerda (BE) a obter a maioria dos votos, muito provavelmente, a notícia jamais seria apresentada como “Extrema-esquerda é a primeira força política na região” …, quanto todos sabemos que a matriz ideológica do BE radica no comunismo trotskista, marca capciosamente substituída pela sigla, que conhecemos e que, comummente, designa aquele Partido …, sendo utilizada, sempre que é feita referência àquela formação partidária.

    Se isto não é informar sob o lema de “dois pesos e duas medidas”, não sei o que seja, visto que se trata de terminologia – perdoe-se-me o desabafo e sem ofensa – que eu não esperava ver na isenção a que, desde sempre, o Jornal do Algarve nos habituou, na sua proverbial verticalidade democrática.

  2. Será que os munícipes, pacíficos cidadãos, dos concelhos algarvios, que votaram, maioritariamente, no Partido Chega, em Portimão, Silves, Lagoa, Albufeira e Loulé serão perigosos esquerdistas radicais ?

    Há conceitos, que são, gratuitamente, postos a circular, que carecem de alguma cautela, aquando da sua formulação.

    Vivemos em democracia, pelo que as pessoas têm o pleno direito de expressar as suas motivações, que as levam a entregar o seu voto maioritário à formação partidária que entendem perseguir a resolução do que as preocupa … ou será que os poderes instalados pretendem que assim não seja, porque colide com os seus interesses e opõem-se a que as populações possam expressar livremente a sua vontade ?

    Ao fim de 50 anos, é tempo de não mascarar a democracia de farsa, que ela não é, de todo, mas, sim, uma libertação.

  3. Permita-se-me que rectifique o parágrafo do meu comentário, acima, de :
    “Será que os munícipes, pacíficos cidadãos, dos concelhos algarvios, que votaram, maioritariamente, no Partido Chega, em Portimão, Silves, Lagoa, Albufeira e Loulé serão perigosos esquerdistas radicais ? “

    Para:
    “Será que os munícipes, pacíficos cidadãos, dos concelhos algarvios, que votaram, maioritariamente, no Partido Chega, em Portimão, Silves, Lagoa, Albufeira e Loulé serão perigosos elementos radicais ? “

    O meu pedido de desculpas pelo lapso.

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