Fernando Pessanha desmistifica Sto António de Arenilha no 510.º aniversário da fundação

“Não estamos a falar de duas terras diferentes”, defende

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O historiador Fernando Pessanha, na quarta-feira, dia 8 de fevereiro, desmistificou a história de Santo António de Arenilha no dia do 510.º aniversário da sua fundação, defendendo que Vila Real de Santo António e aquela antiga localidade “são a mesma terra”.

Sustentando-se a partir de documentos que tem consultado ao longo dos últimos anos nos arquivos nacionais, de onde têm resultado os seus ensaios históricos, o também técnico superior da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António esclareceu os presentes na conferência de celebração do 510.º aniversário da fundação de Santo António de Arenilha, que decorreu no Arquivo Histórico Municipal António Rosa Mendes.

“Santo António de Arenilha nunca deixou de existir. O que aconteceu é que, ao longo dos tempos, foi mudando o seu topónimo. De Arenilha passou a Santo António de Arenilha, sendo também referida como Santo António da Foz do Guadiana. Depois, já no séc. XVIII, Nova Vila de Santo António de Arenilha, Vila Real de Santo António de Arenilha até ficar em Vila Real de Santo António”, começa por dizer Fernando Pessanha.

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Fernando Pessanha

Diz o historiador vilarrealense que Santo António de Arenilha, fundada em 1513, “remonta ao reinado de D. Manuel”, uma antiga póvoa que foi o “ensaio povoador” que “lançou os alicerces do que viria a vila reconstruida dois séculos e meio mais tarde”.

O conhecimento sobre a história de Santo António de Arenilha tem vindo a crescer “exponencialmente” nos últimos 10 anos, sendo que a primeira publicação exclusivamente dedicada a este tema surgiu em 1995.

Fernando Pessanha conta que Santo António de Arenilha “é fundada no contexto da Expansão Portuguesa”.

Segundo a Carta de Privilégio do rei D. Manuel, de 8 de fevereiro de 1513, Santo António de Arenilha “começou originalmente por ser um couto de homiziados”, de modo a forçar o povoamento de um território ermo e onde se tornava necessário e urgente construir uma póvoa, de modo a suprir os interesses do Estado.

“Neste caso, era com pessoas que tivessem contas com a justiça. Em vez das pessoas estarem presas, eram mais úteis estando numa prisão a céu aberto, onde pudessem dedicar-se à pesca e contribuírem para os interesses estratégicos do reino a nível do povoamento do território”, explica.

Para que outras pessoas ocupassem o território de Arenilha, eram-lhes concedidas isenções de impostos sob as mercadorias que entravam e saiam da vila e até existia uma barca para facilitar o transporte de pessoas, animais e mercadorias entre as duas margens do rio Guadiana, “para motivar as pessoas” a irem viver para aquela localidade fronteiriça.

Considerada como uma “terra com clara vocação piscatória”, era composta por casas de colmo e de madeira”, localizada num “autêntico areal” e, por isso, chamada de “Arenilha”, sendo parte da população de manifesta origem castelhana.

“Até o padre vinha de Ayamonte para prestar os serviços litúrgicos em Santo António de Arenilha”, acrescenta o historiador algarvio.

Com a vereadora da Cultura, Conceição Pires

Santo António de Arenilha, que não deixava de ser uma “vila de piratas”, foi palco de comércio, contrabando, tráfico de escravos, ataques de piratas e existiam no local a Igreja da Trindade e a Ermida do Santo António.

Segundo Fernando Pessanha, o feriado municipal de Vila Real de Santo António celebrado a 13 de maio é a data que assinala “a refundação da vila que já aqui existia e que nunca deixou de existir, ao contrário do que erradamente se tem dito por aí. O que aconteceu foi que a população abandonou a sede de concelho no decurso do séc. XVII, tendo-se dispersado pelo termo arenilhense, tal como aconteceu noutras terras algarvias no mesmo período. No entanto a população aqui permaneceu e até a câmara continuou em funções, sem interrupção institucional, até à reconstrução da nova vila de Santo António de Arenilha, em 1774”.

De facto, só mais tarde é que o Marquês de Pombal mandou erradicar o topónimo de Arenilha, por se tratar de um topónimo de origem castelhana.

“A construção de Vila Real de Santo António também não se deu exatamente como se conta. Na realidade, nunca houve qualquer intenção nem qualquer plano para se fundar qualquer Vila Real de Santo António. Esse é mais um mito urbano e uma tradição oral. O que a documentação da época mostra é que o plano sempre foi o de reconstruir a vila de Santo António de Arenilha, ainda que ao abrigo da realidade arquitetónica e urbanística da segunda metade do séc. XVIII”, defende.

Fernando Pessanha afirma que “o 13 de maio tem o seu valor”, mas alerta tem uma contrapartida: “apaga metade da história da nossa terra”, que na realidade remonta a 1513.

O historiador refere ainda que existe a necessidade de se criar uma “reinterpretação gráfica daquilo que era a sede de concelho, consonante com o estado do conhecimento atual e que poderia ser realizada através da recriação tridimensional”.

Por outro lado, Fernando Pessanha alerta ainda para a existência de uma “gravíssima lacuna” a nível da nossa história local: a falta de investigação e de publicações acerca da Arenilha do século XVII e do século XVIII.

“Não estamos a falar de duas terras diferentes”, defende.

“Para além disso, temos uma enorme dívida de gratidão para com os arenilhenses, pois foram eles que lançaram o ensaio povoador do que mais tarde viria a ser Vila Real de Santo António”, conclui.

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