Inverno vai ser morno e chuvoso

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Para já as notícias são boas para a agricultura. Até março, a precipitação vai estar entre 20 a 50 milímetros acima do normal para a época na regiões norte e centro do país. E boas também para quem gosta da vida ao ar livre, porque as temperaturas médias vão estar 0,5 a 1 grau acima do normal em todo o território do continente. Com duas ressalvas: a probabilidade de chover acima do habitual é de 40% a 60% e a hipótese de se registarem temperaturas médias superiores ao normal é de 80% a 90%.

Fazer previsões meteorológicas a três meses é sempre uma tarefa arriscada. É verdade que os meios tecnológicos disponíveis em terra, no mar e no espaço (satélites) são cada vez mais numerosos, eficazes e sofisticados, mas, como avisa Vanda Cabrinha, meteorologista do Departamento de Clima do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), “é preciso ter sempre em conta que nas previsões sazonais há uma grande margem de erro”.

O IPMA usa desde setembro de 2012 o sistema de previsão sazonal multimodelo EUROSIP, que tem a grande vantagem de integrar quatro sistemas diferentes: o britânico (do Met Office), o francês (da Météo-France), o americano (NCEP) e o do Centro Europeu de Previsão do Tempo a Médio Prazo, onde participam 34 países da Europa, incluindo Portugal. É a partir daqui que conseguimos saber o que se vai provavelmente passar até março na meteorologia.

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Seca a caminho do fim

No Boletim Climatológico de novembro, o IPMA revelava que 52% do território do continente se encontrava em estado de seca fraca ou moderada (ver mapa), porque o valor médio da quantidade de precipitação (53,6 milímetros), tinha sido muito inferior ao normal (109,4 milímetros). Valores mais baixos do que em novembro de 2015 só ocorreram em 20% dos anos desde que há registos regulares (1931). A situação representa um recuo relativamente a outubro, um mês chuvoso, com uma precipitação média de 147,1 milímetros. Graças a ela, apenas 8,4% do território nacional se encontrava então em seca meteorológica fraca (ver mapa). Outubro foi mesmo marcado, no dia 17, por uma precipitação muito forte em todo o país, acompanhada de rajadas de vento com velocidades superiores a 140 km por hora. E no dia 1 de novembro houve um evento extremo que atingiu quase todo o Algarve e uma parte do Baixo Alentejo: em apenas 12 horas, a chuva ultrapassou os 100 milímetros.

A previsão sazonal de que vamos ter um inverno mais chuvoso do que o habitual — ou seja, do que a média do período de referência de 1971/2000 — vai certamente ditar o fim da seca fraca ou moderada que em novembro já afetava mais de metade do território do continente. Nessa altura, o Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH) da Agência Portuguesa do Ambiente informava que o volume de água armazenado nas 60 barragens monitorizadas por bacia hidrográfica apresentava valores inferiores à média de 1990/91 a 2014/15, “exceto para as bacias do Cávado/Ribeiras Costeiras, Douro, Ribeiras do Oeste, Ribeiras do Algarve e Arade”. Mas é bom não esquecer que no ano hidrológico anterior, de outubro de 2014 a setembro de 2015, as albufeiras tiveram de suportar uma seca severa e extrema que chegou a atingir quase 80% do país.

O IPMA ainda não tem um balanço final do mês de dezembro, “mas os dados já apurados apontam para valores de precipitação bastante abaixo do normal — uma quebra superior a 50% — e para temperaturas médias acima do normal em mais de um grau”, revela Vanda Cabrinha. “Claro que os dias frios do início do inverno (desde 22 de dezembro) vão certamente baixar a média das temperaturas já calculada”.

Ano mais quente de sempre, mas não em Portugal

Entretanto, desde novembro que se divulgam previsões, incluindo a da Organização Meteorológica Mundial, que apontam para 2015 vir a ser o ano mais quente de sempre a nível mundial desde que há registos regulares das temperaturas (desde há 150 anos). A realização da Cimeira do Clima em Paris no início de dezembro contribuiu certamente para esta profusão de estudos, que tiveram um efeito de pressão sobre as negociações da ONU na capital francesa.

Em Portugal, o cenário parece ser outro, apesar das sete ondas de calor registadas ao longo do ano. Há uma onda de calor quando num intervalo de pelo menos seis dias consecutivos a temperatura máxima diária é superior em cinco graus ao valor médio diário no período de referência de 1971-2000. “Valores da temperatura média superiores a 2015 aconteceram em 15% dos anos desde 1931”, recorda a meteorologista do Departamento de Clima do IPMA, “e na precipitação, este ano está entre os cinco mais secos desde 1931”.

Virgílio Azevedo (Rede Expresso)

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