Maioria discorda de um Governo sem algarvios

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As duas dezenas de algarvios e residentes na região ouvidos esta semana pelo JORNAL do ALGARVE dividem-se quanto à opção de António Costa de não ter incluído um único algarvio ou residente no Algarve como ministro ou secretário de Estado no Governo empossado na passada semana. Ainda assim, a maioria discorda da decisão do primeiro-ministro. O JA ouviu políticos dos principais partidos, empresários, autarcas, gente ligada ao turismo, à cultura, ao desporto e ainda teve tempo de ir para a rua ouvir cidadãos anónimos

A maioria, 12 auscultados, discorda, seis concordam e três escolheram o “nim”…


“O mais importante é fazerem-se as obras”

Em 16 anos só houve algarvios no Governo nos últimos seis. É claro que eu preferia ter algarvios no Governo, mas o que é mais importante é que o Governo concretize as obras de que o Algarve precisa. Mas a verdade é que o Sócrates nunca teve um algarvio no Governo, o Passos Coelho não teve algarvios no Governo. Só aí estamos a falar de dez anos. Em 2005 começámos o Governo do António Costa com um algarvio no Governo, depois passámos para dois, em 2019 foram três e agora não há ninguém. Claro que eu preferia que houvesse algarvios no Governo como nos últimos seis anos, mas o que é mais importante é que o Governo concretize as obras que o Algarve precisa. Os governos não se fazem por quotas.



“A minha preocupação é que as pessoas tenham qualidade”

Eu já me desabituei a medir o Governo em função do número de representantes do Algarve que tenha. Porque quando fiz essa leitura a maior parte das vezes enganei-me redondamente. Aliás, o último Governo foi prova cabal disso. Tivemos uma secretária de Estado da Saúde, mas continuamos sem hospital e sem melhoria das condições de saúde da região. Tivemos um secretário de Estado da Administração Local e persistimos em não dar passos mais avançados nos processos de descentralização. A minha preocupação é que as pessoas tenham qualidade e que tratem o Algarve como tratam os demais. Agora se ser do Algarve não significa nada em particular não vejo qual é a vantagem.


“Se conseguíssemos representação teria sido benéfico para o Algarve e fico triste”

Na base não concordo com o sistema eleitoral que nós temos neste momento porque à partida porque mesmo sendo eleitos pelo círculo eleitoral de Faro os deputados são representantes da Nação, não são de todo representantes apenas da região do Algarve. E isto já em muito dificulta a representação regional que nós possamos ter. Sabemos que alguns conseguem mediatizar um pouco mais algumas questões regionais na Assembleia da República, mas não tem sido fácil esse caminho. A questão de não termos nenhum ministro nem secretário de Estado da região do Algarve vem agravar mais isto. Como algarvia que sou gostava de ver alguma representação regional nalgum destes órgãos porque acredito que se o trabalho fosse bem feito de alguma forma iriam conseguir influenciar o peso do Algarve em algumas decisões, como é o caso do Turismo, por exemplo. Se conseguíssemos ter alguma representação teria sido benéfico para o Algarve e fico triste.


“Acho que isso não tem muita relevância”

Acho que isso não tem muita relevância. O mais importante são as políticas. Claro que se forem da região tanto melhor, mas se forem da região e fizerem políticas contrárias ao Algarve… temos tido alguns políticos do Algarve e têm deixado muito a desejar. Temos o exemplo do Professor Cavaco Silva. O Mário Centeno foi ministro das Finanças e em investimentos foi quase zero aqui no Algarve. Tivemos um secretário de Estado no ano passado [Jorge Botelho]. Acho que não puxaram pela região. O que interessa aqui são as políticas, que sejam favoráveis à região e às pessoas.


“O que é decisivo é saber se o Governo responde ou não aos problemas da região”

Sem prejuízo que os equilíbrios quanto às opções de composição de um Governo devem obedecer e onde se envolve também a composição regional, o que é determinante para o Algarve é o conteúdo da política que venha a ser desenvolvida pelo Governo. No limite podíamos ter até um Governo todo ele composto por algarvios e se as suas opções não fossem no sentido de estimular o aumento dos salários, a defesa dos serviços públicos, e o reforço do investimento público, isso não se traduziria num avanço do ponto de vista do desenvolvimento da região. O que é determinante é o conteúdo da política que o Governo venha a decidir.


“É com estranheza que vejo que o PS não reconhece competência a nenhum militante do Algarve

Não acho normal de todo. Se o critério que preside à escolha dos membros dos elencos governativos é a competência é com muita estranheza que vejo que o PS não reconhece competência a nenhum militante do Algarve para ser integrante do Governo. Portanto é com estranheza que vejo o PS a reconhecer que não tem nenhum militante no Algarve que possa desempenhar funções. Espero que o PS não saia prejudicado, mas temo que sim. Pelos vistos as vistas do senhor primeiro-ministro acabam em Lisboa e não olham para o resto do País, pelo menos para sul. Parece que estamos muito afastados e não se lembram que há um distrito que tem um peso considerável no PIB e na atividade económica do País e se vê escamoteado de ter algum governante.


“Lamento, até porque o PS tem bons quadros, tal como tem o nosso partido

O Governo entendeu que não havia ninguém no Algarve lamentavelmente com condições de ir para o Governo, o que lamento, até porque o Partido Socialista tem bons quadros, tal como tem o nosso partido. Esperamos que isto não seja uma antevisão de mais uma vez o Algarve ficar votado ao abandono daquilo que são as políticas do Governo. É importante recordar que há um mês e meio atrás, em plena campanha eleitoral, foi prometido aos algarvios que nas próximas semanas estaríamos em condições de avançar com o Hospital Central do Algarve. Este é um mau presságio. Esperamos que nas próximas semanas, que daqui a pouco são meio ano, tenhamos acesso aos timings concretos para a construção do Hospital.

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“Não tenho que me meter numa atribuição do primeiro-ministro, mas tenho pena que não haja pessoas do Algarve”

Não posso achar que é bom. É evidente que eu gostaria que houvesse membros do Governo do Algarve. Mas quem tem que fazer o Governo e é o primeiro-ministro, ele é que toma as suas opções e ele é que sabe as pessoas que quer e que precisa para a constituição do seu Governo e para a prossecução dos seus objetivos e projetos. Não tenho que me meter naquilo que é uma atribuição do primeiro-ministro, mas claro que tenho pena que não haja pessoas do Algarve.


“Reforça a ideia de um Algarve esquecido”

“É de facto muito mau não termos ninguém no Governo aqui do Algarve. O Algarve é uma região que contribui economicamente para o país em termos líquidos. Produzimos muita riqueza, pagamos muitos impostos, mas o retorno que vem de Lisboa é pouco. O facto de não termos nenhum secretário de Estado nem nenhum ministro que possa fazer alguma ligação ao Algarve reforça o fosso e a ideia de um Algarve esquecido”.


“Interessa é que o Governo faça uma política nacional correta”

Interessa é que o Governo faça uma política nacional correta e equilibrada e que os ministros e secretários de Estado estejam à altura disso. Não penso que se ministros e secretários de Estado tiverem a presença de cada uma das regiões isso seja uma garantia de melhor sucesso. Se tivesse que dar uma opinião teriam alguns aspetos negativos a Secretaria de Estado do Turismo, em vez de ser reforçada tendo em conta a importância económica do Turismo, ser sobrecarregada com o comércio e com os serviços.


“Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”

Estou como gestor público nomeado pelo Governo e quem é nomeado não deve comentar coisas do Governo. Como algarvio, independentemente do que disse, a minha publicação no Facebook que saiu no próprio dia da nomeação do Governo diz tudo. Fui buscar o capítulo III dos Maias, um diálogo fantástico entre o Ega e outro interlocutor, em que deriva aquela expressão – que não está lá – para uma síntese popular que é “Portugal é Lisboa e o resto é paisagem”. Mas o Ega diz isso de uma maneira muito mais fina e impactante.


“Não haver ninguém que vive no Algarve ou aqui nasceu é uma preocupação”

Isso é claramente uma desconsideração pela região. Neste governo, aliás houve duas desconsiderações: uma é essa, a outra é terem juntado na Secretaria de Estado do Turismo o Comércio e Serviços. Ou seja, o Turismo, que representa tanto do PIB, não tem direito sequer a uma secretaria de Estado autónoma como teve nos últimos anos, quanto mais a um ministério. Por outro lado, o Algarve que teve uma votação tão expressiva no Partido Socialista, não teve direito a um único membro do Governo. E isso é uma desconsideração para a região.
[Pode haver gente do Algarve que faz políticas contra o Algarve, mas] não haver ninguém que tenha um cartão de cidadão que diga que vive no Algarve ou aqui nasceu é uma preocupação.


“Havendo um secretário de Estado, falar-se-ia com mais insistência no Hospital Central, por exemplo”

Cada vez tenho menos confiança nestas coisas da política, isto obedece tudo a outras lógicas que não propriamente aquelas que têm a ver com o interesse público de base. São outras coisas. Se visse o espetáculo que nós neste momento temos em cena [“À Deriva”] ia perceber o que eu quero significar. Havendo um secretário de Estado de qualquer coisa no Governo, evidentemente falar-se-ia com mais insistência no Hospital Central, por exemplo, a alteração da via férrea em Faro falar-se-ia com mais insistência.


“Esta questão vem demonstrar a falta de peso político dos nossos atores”

Este facto tem a ver com a falta de peso do Algarve. Comparativamente ao que o Algarve dá ao País recebe sempre muito menos. E esta questão vem demonstrar essa falta de peso político dos nossos atores e é extremamente prejudicial para a região. Temos tido poucos e agora então sem nenhum o pouco peso que havia ficou reduzido a zero.


“Até é bom que não haja para vermos a diferença”

Positivo seria ter. Obviamente que na teoria seria bom ter lá uim algarvio, mas será que isso se reflete nas políticas, nalguma coisa concreta? Nos últimos anos não tenho achado que isso faça grande diferença. O Algarve continua a ser um parente pobre do País, que só serve para as férias e continua tudo a ser tão difícil como é sempre mesmo quando há algarvios que estão lá. E até me parece interessante que não haja e aí podemos ver a diferença!


João Prudêncio

“Interesses dos algarvios não vão ser defendidos”

O facto de não haver ninguém que seja do Algarve significa que os interesses dos algarvios não vão ser tão bem defendidos. Se tivéssemos alguém no Governo da zona, tínhamos a esperança de ter alguém que pudesse puxar pelo Algarve e tentar resolver os problemas da região e ver o que faz falta… Precisamos de alguém que perceba que é necessário um hospital em condições que sirva o Algarve. Não havendo nenhum governante algarvio, corremos o risco que o projeto do hospital central continue na gaveta e que nunca chegue a sair de lá.

Vera Valente

“Seria crucial existir uma representação”

A região do Algarve tem vindo a ser esquecida em muitos aspetos. Na minha opinião, seria crucial existir uma representação do Algarve mais abrangente, para que os interesses de toda a população algarvia fosse tema de ordem do dia, ao invés de se resumir apenas à época balnear”.

Cátia Costa

“É incompreensível”

O Governo devia representar o país. Acho muito estranho não haver um só membro que seja daqui do Algarve. Ao menos um secretário de Estado. Assim parece que perdemos voz, visibilidade… Sem alguém que nos “represente”, o que se passa no Algarve e os problemas da região vão ficar ainda mais para trás. O Algarve é uma das regiões que mais dá a Portugal e, portanto, é incompreensível”.

Isabel Rodrigues

É um sinal de recuo”

Na minha opinião, esta questão está relacionada com a centralização do poder político e com o facto da ação política e partidária algarvia ser atirada para segundo ou terceiro plano. Apesar de sermos uma região que contribui em muito para o Produto Interno Bruto nacional, a verdade é que, desde há anos, nos sentimos esquecidos pelo Governo central. As problemáticas da saúde, da habitação, da ferrovia, das pescas, dos acessos e de tantas outras, traduzem que estamos a ficar para trás. A falta de uma personalidade que represente e lute pelos desígnios da região é um sinal de recuo.

Zélia Pinheiro


“Um governante algarvio para o turismo faria sentido”

Quando António Costa escolhe os ministros e secretários de Estado para estarem a seu lado durante o mandato, não escolhe com base nas suas raízes, mas sim consoante as qualificações dos eleitos. Se isso está certo ou errado é outra questão. Agora, na minha opinião, deveria sempre existir um representante do Algarve, independentemente do mandato, nem que seja em áreas mais propícias a serem representadas, como é o caso do Turismo. Dado o potencial turístico do Algarve, ter um governante algarvio com essa pasta seria interessante e faria todo o sentido”.

Catarina Martins

“O Algarve e os algarvios ficam a perder”

Não é bom não termos um algarvio no Governo, não. Se o Algarve já é uma região esquecida, plantada a sul de Portugal e só lembrada na altura das férias e no verão, principalmente, ainda para pior. A oportunidade de ter alguém que, dentro dos seus poderes e obrigações, lute pela igualdade regional no país e que apresente projetos que o Algarve precisa, vai por água abaixo. O Algarve e os algarvios, que tanto dão ao país, ficam a perder.

Nuno Costa

Joana Pinheiro Rodrigues/G.D.

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