Martim Sousa Tavares: O maestro que quer democratizar a música clássica no Algarve

O novo maestro da OCS sucede a Rui Pinheiro

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Martim Sousa Tavares foi apresentado como maestro titular da Orquestra Clássica do Sul (OCS) no dia 31 de janeiro, momento que ficou consagrado pelo seu primeiro concerto à frente da orquestra, em Faro, no dia 5 de fevereiro. A plateia do Teatro das Figuras levantou-se para aplaudir um momento musical que ficará na memória daqueles que sentiram a beleza e o dramatismo de um repertório eclético que marca “um novo ciclo” na OCS.

No seu primeiro concerto enquanto maestro titular, Martim Sousa Tavares apresentou um alinhamento musical que traduz algumas das principais linhas daquilo que será a orientação artística e musical da Orquestra Clássica do Sul para o próximo triénio.

Aos 32 anos, depois de ter passado por cidades como Milão e Chicago, e de ter fundado duas orquestras (Orchestra di Maggio, em 2014, e a Orquestra Sem Fonteiras, em 2019), abraçou o desafio de assumir a batuta da OCS, à qual chama “orgulhasamente” de sua.

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O maestro, formado em Ciências Musicais e Direção de Orquestra, olha para a OCS como “um tubo de ensaio perfeito” para pôr em prática “novas ideias” e uma nova identidade criativa que “já fervilha”, disse ao JA.

Para si, “uma orquestra é um tesouro, um ativo cultural e um recurso de valor inestimável”, sendo por isso “um privilégio ter contacto com esta forma de arte de tradição tão rica e viva. Por esta razão, a minha primeira preocupação enquanto maestro titular da OCS é fazer com que a nossa orquestra seja uma porta aberta para todos aqueles que se cruzarem connosco”, vinca.

Defensor convicto de que uma orquestra “tem que conseguir relacionar-se com o mundo à sua volta”, Martim Sousa Tavares disse aos jornalistas que querer que a OCS tenha um espírito “todo o terreno” com o intuito de alcançar “todas as camadas da população” e não apenas “um nicho”.

Numa atitude marcadamente “fora da caixa”, o maestro discorda de padrões que se foram impondo na sociedade, que fazem com que a música clássica seja vista como séria e formal.

“Fazemos música clássica, é certo, mas não em sentido anacrónico. Não pensem que vamos ser previsíveis, ou que isto vai ser sempre o Mozart e o Beethoven”, afirmou.

Orquestra volta ao nome original em abril

No dia de apresentação do novo maestro titular, António Branco, presidente da Orquestra Clássica do Sul, anunciou que, a partir de abril, a OCS regressará, cerca de 10 anos depois, ao seu nome original – Orquestra do Algarve.

Martim Sousa Tavares considera que, apesar de os motivos da mudança de nome para Orquestra Clássica do Sul terem sido “bons”, também é bom “voltar atrás e eliminar a palavra clássica” do nome.“Só traz coisas boas, porque clássico é um espartilho. E se não quisermos ser clássicos?. Eu próprio não me considero nada clássico”, brincou.

Na conferência de imprensa, o maestro assumiu o compromisso de estimular jovens “a ouvir e a sentir a música clássica”. Martim Sousa Tavares revelou querer conquistar novos públicos e que a orquestra se assuma “enquanto marca daquilo que é a identidade cultural do Algarve”.

Tocar “no interior da região”, “na serra” e em espaços “menos convencionais que valorizem o património cultural” são algumas das pretensões do lisboeta que sublinha ser desejável “que apareçam novos formatos de intervenção da orquestra, novos espaços, novos horários, novas formas de estar, novos repertórios e novos compositores”.

Martim Sousa Tavares adiantou ao JA que vai dirigir metade dos concertos da orquestra, estando a outra metade reservada a outros maestros, evitando, assim, cair em “rotinas”.

OCS prepara programação em Cachopo

António Branco revelou que a orquestra está a planear um ciclo musical específico para a freguesia serrana de Cachopo (Tavira), que já mostrou o interesse em “ter a OCS a dar espetáculos no seu território de forma assídua”.

O presidente da OCS explicou que neste “novo ciclo”, a orquestra quer atuar “enquanto instrumento de coesão territorial e de inclusão”, para levar música “desde Alcoutim a Vila do Bispo”.

Na visão do antigo reitor da Universidade do Algarve, suportada pelo ‘sangue novo’ de Martim Sousa Tavres, a nova era da OCS será sinónimo de “aprofundar a relação da orquestra com o território”, “levar o nome do Algarve além-fronteiras”, “promover mais iniciativas de promoção da região”, “envolver a orquestra nos grandes temas da atualidade”, tais como a desinformação e a saúde mental, “aproximar a orquestra dos públicos que estão afastados da música clássica” e pela articulação artística com os conservatórios regionais.

Martim Sousa Tavares e António Branco (Créditos: Joana Pinheiro Rodrigues)

Cativar os jovens

Na ocasião, o novo maestro sublinhou a importância da renovação geracional dos públicos e de chegar aos jovens, sendo para isso necessário, na região, “tirar partido do potencial da massa jovem da Universidade do Algarve”. Neste sentido, Martim Sousa Tavares avançou que está no seu horizonte a criação uma tipologia de concertos chamados de ‘after dark’ em espaços noturnos, onde os jovens possam estar de “uma forma diferente” do que estariam num concerto tradicional num auditório.

“Eu próprio já fiz a programação de um ciclo de música clássica numa discoteca. Portanto, sei que é possível fazer estas coisas. Claro que tem que escolher repertório específico, não vai a orquestra toda […] portanto, vamos nós próprios adaptar-nos e oferecer música do século XX, século XXI”, concluiu.

“Martim está em total sintonia com o nosso objetivo”

A aposta neste jovem maestro por parte da Associação Musical do Algarve deve-se, nas palavras do seu presidente da Direção, António Branco, “à elevada maturidade e clareza da sua visão artística e à sua total sintonia com o nosso objetivo de cada vez mais dar a conhecer a todos, sem exceção, a música erudita de maior qualidade produzida desde o séc. XVIII, ao mesmo tempo flexibilizando, alargando e modernizando os tipos de relação que com ela se pode estabelecer”.

António Branco garante que esta será uma Orquestra “cocriadora de projetos, humana, moderna, mais próxima e atenta à atualidade”.

Sobre a OCS

A Orquestra do Algarve foi fundada em 2002, tornando-se na Orquestra Clássica do Sul em setembro de 2013. Tem como principais objetivos promover e divulgar a música erudita em todas as camadas sociais, não só contribuindo para elevar o nível cultural da população a quem se dirige, como também desenvolver uma ação pedagógica junto das camadas mais jovens, procurando enriquecer e diversificar a oferta cultural e turística na região. Composta por músicos e cerca de 14 nacionalidades, selecionados em concurso público internacional, a OCS conta agora com Martim Sousa Tavares na sua equipa artística como maestro titular. Em 2019, a OCS iniciou o projeto ‘Coro Comunitário’, que tem como principal missão interpretar repertório coral sinfónico, alargando assim a programação musical da orquestra. O projeto conta com a coordenação do barítono Rui Baeta.

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