O objetivo do ONE, inaugurado em Alte (Loulé), em março do corrente ano, passa pela “agregação de indicadores importantes para aferir os processos de envelhecimento ativo e saudável”. Indicadores esses que permitirão “a monitorização municipal, regional e nacional, bem como a análise comparativa dos indicadores com outros países europeus e mundiais”, enquadra Nuno Marques.
Na sua visão, ser idoso no Algarve “é viver num local que tem todas as condições para proporcionar uma boa qualidade de vida, nomeadamente aproveitando o facto de a região possuir um Centro de Referência de Envelhecimento Ativo e Saudável – o Algarve Active Ageing, coordenado pela professora Sandra Pais”.
O Algarve Active Ageing – A3, como explica Nuno Marques, é um consórcio que reúne 85 entidades regionais numa dinâmica multidisciplinar que reúne academia, governança, empresas e sociedade civil, que trabalham, de forma colaborativa, no desenvolvimento “de soluções inovadoras que possam ter impacto nas populações idosas”. Este consórcio assume-se como “um catalisador para a criação de sinergias positivas entre os diversos parceiros, com o objetivo de estabelecer uma abordagem abrangente e baseada na inovação para o envelhecimento ativo e saudável na região do Algarve”.
Por outro lado, sublinha que o Algarve “é procurado por outros cidadãos europeus para a sua reforma, traduzindo já as excelentes condições existentes” do destino. Contudo, na sua perspetiva, existe ainda “muito trabalho a desenvolver para que estas condições sejam disponibilizadas a toda a população, desde o litoral até ao interior”, afirma.
Questionado sobre a análise de indicadores de avaliação da região desde a inauguração do ONE, o responsável explica que os dados levantados pelo Observatório Nacional do Envelhecimento “reforçam que a população está a envelhecer” e que o índice de envelhecimento “mostra que a população tende a ser cada vez mais envelhecida em toda a região”, constata.
O também presidente do ABC, justifica o facto de existirem concelhos em que o índice de envelhecimento “é dos mais elevados do país”, como é o caso de Alcoutim, com a “interioridade e a desertificação” que tem levado os jovens a se fixarem nas zonas do litoral.
PRR financia medidas
No futuro, o ONE “produzirá os indicadores que sejam necessários para cada um dos municípios, caso estes assim o pretendam”, visto que o papel do Observatório passará também por “aplicar os indicadores que permitam avaliar as medidas implementadas pelo Governo ou pelas entidades regionais ou locais”.
O ONE tem vindo a investigar a realidade gerontológica da região e Nuno Marques garante já existirem “várias medidas a serem implementadas em termos nacionais do âmbito do envelhecimento, através do programa desenvolvido pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social”. Neste sentido, adianta ao JA que “foram lançados importantes procedimentos do Plano de Recuperação e Resiliência para financiar um aumento da capacidade dos lares, a inovação nos lares e a criação de equipas multidisciplinares para apoio domiciliário, estando já várias outras medidas previstas para serem implementadas a curto prazo”.
Alcoutim com programa direcionado
De acordo com o cardiologista, o ABC está a trabalhar com o município de Alcoutim “para a implementação de um programa destinado ao envelhecimento da população, que o presidente da autarquia terá oportunidade de apresentar enquadrado no Plano Municipal de Saúde”, avança. Ainda que não lhe caiba a si “divulgar as medidas”, assegura que se trata de um plano “muito completo e ambicioso e que responde a muitas das necessidades da população”.
No dia da inauguração do ONE, António Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, referiu que o Observatório “quer ajudar os idosos a chegar mais novos a velhos”, prolongando a qualidade de vida das faixas mais vulneráveis. Segundo Nuno Marques, “o papel do ONE é avaliar os indicadores, propor medidas e acompanhar a sua evolução. É dessa forma que assume um papel muito ativo”, justificando a contribuição do ONE para a problemática do envelhecimento populacional.
A seu ver, o Algarve “sabe cuidar e proteger dos idosos”, e isso deve-se ao facto de possuir um dos institutos da Segurança Social “mais preocupados e empenhados na proteção dos idosos da região”, considerando que estas faixas etárias têm um acompanhamento “adequado”. Ao JA afirma que o Instituto da Segurança Social no Algarve é “um dos melhores, senão o melhor do País no conhecimento, cuidado, integração com a comunidade e acima de tudo na busca da solução”, robustece.
ONE prepara relatório sobre maus tratos
Dado o crescente número de casos de maus tratos, sobredosagem de medicação e violação da dignidade humana em alguns lares da região, Nuno Marques diz que o Observatório Nacional “reconhece essa temática” e por isso “está a finalizar o relatório sobre a violência contra os idosos, que apresentará medidas concretas para que os decisores possam considerar para implementação”.
Relativamente à forma de atuação das instituições, não tem dúvidas que “qualquer situação de maus tratos deve ser prevenida e evitada”, sendo para tal necessário “apostar na qualidade com foco nos cuidados a prestar aos utentes e na formação dos profissionais”, vinca.
Formação dada aos técnicos tem de ser atualizada
O líder do ONE reconhece que a formação dada aos técnicos que lidam com os idosos “necessita de ser atualizada e melhorada como todas as restantes formações”. Nesse prisma, “é essencial que avance a realização de programas curtos e exequíveis de formação por parte das universidades e dos seus centros de referência de envelhecimento para estes profissionais”, reforça.
Envelhecimento como conquista e não como fatalidade
Para o presidente, o ONE possui “a visão que o envelhecimento é um processo natural que ocorre ao longo de todo o ciclo de vida, tratando-se de um aumento de algumas capacidades, perda de outras e sobretudo de uma transformação das capacidades de cada um”. Envelhecer é, desta forma, “um processo que vai ocorrendo e que são as ocorrências ao longo dos anos que definem a forma como ocorre”. O ONE subscreve a visão da Organização Mundial de Saúde que defende que “o importante é dar qualidade aos anos de vida”, advoga.
“Entidades fizeram o necessário para salvar vidas na pandemia”
Nuno Marques defende que “os lares de idosos e os centros de dia tiveram um comportamento exemplar ou perto disso durante a pandemia”. Nas suas palavras, estas instituições “também fazem parte dos verdadeiros heróis da pandemia e formam essenciais, tal como as medidas do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social para que fosse atingido o excelente resultado que o país obteve”, destaca.
Segundo o responsável, Portugal é o país da Europa com “menor mortalidade em lares”. Por esta razão, não subscreve “a opinião que as entidades se fecharam em demasia durante a pandemia… As entidades fizeram o necessário para salvar a vida daqueles que lhe confiaram o seu destino”.
Nuno Marques frisa, por outro lado, que “a existência de queixas deve ser tida em conta pelas instituições, acima de tudo para fazerem sempre mais e melhor”.
Enquanto sociedade, considera que “devemos olhar para os idosos como as pessoas que fizeram da sociedade o que ela é hoje e acima de tudo que ainda têm muito a dar à sociedade” e acrescenta “muitos deles são um poço de sabedoria na sua área e uma mais valia para todos nós. É errada a visão que ainda existe nalgumas pessoas que os idosos são um peso e uma despesa para a sociedade. Esta visão é redutora e não traduz a realidade”, agudiza.
Sociedade adaptada ao idosos
“Portugal está a finalizar o Plano Nacional de Envelhecimento – um documento com medidas concretas em vários setores, desde o trabalho à passagem à reforma, desde a prevenção até aos cuidados de saúde, reabilitação e paliação, formação ao longo da vida, melhoria das condições em lares e acima de tudo adaptação dos domicílios e apoios domiciliários multidisciplinares”, descreve o responsável.
Apesar de se estar “a evoluir” na forma como encaramos o envelhecimento, Nuno Marques alerta que “Portugal deve ainda olhar para o envelhecimento no empreendedorismo sénior e como uma oportunidade em termos de sociedade e mesmo em termos de prestação de cuidados a cidadãos europeus, sendo inovadores e arrojados”. Nesse âmbito, aproveita para parabenizar “o município de Loulé o seu presidente, Vítor Aleixo, um visionário que apostou no tema da década e que está a desenvolver com o ABC um projeto de alto impacto nacional e europeu no seu concelho, que irá também servir todo o Algarve”, finaliza.