Players algarvios dão cartas no gaming mundial

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Ser um ‘atleta’ profissional à frente de um ecrã é cada vez mais uma realidade mundial. Há jogadores de computador e consolas a ganhar milhares de euros em prémios. Muitos pertencem a equipas com grandes patrocinadores e são reconhecidos na rua por fãs, como se fossem estrelas de futebol. No Algarve começa-se agora a dar os primeiros passos nesta cultura, com a participação de jogadores naturais da região em competições internacionais

Quem não conhece este mundo fica em choque com a quantidade de horas que os jogadores passam em frente a um ecrã. Mas fica também em choque quando sabe que um destes jogadores pode vir a ganhar milhares, ou até milhões de euros a fazer aquilo de que gosta: jogar videojogos.


Deste mundo já faz parte Gonçalo Gonçalves, de 26 anos e natural de Vila Real de Santo António, que se apaixonou por esta área ainda durante a infância com o clássico Gameboy. “Foi um processo natural de evolução ao passar por todas as versões da Playstation e Nintendo”, até chegar ao Counter Strike (CS), revela o jogador ao JA.

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CS é uma série de videojogos de tiro na primeira pessoa, onde várias equipas de terroristas e contra-terroristas batalham entre si, até serem eliminados todos os jogadores, em vários cenários e com diversos tipos de armas.


Aos 15 anos teve o seu primeiro contacto com o CS através de amigos e dois anos depois foi ao seu primeiro torneio nacional, na XL Party no Porto, após adquirir um computador com internet ADSL.


“Tinha alguns amigos da escola que jogavam e sempre que tinha tardes livres ia para casa deles, começando assim a conhecer um mundo competitivo que ia muito para lá do jogo casual entre amigos”, refere.


O player vilarealense não considera que tenha jogado em equipas profissionais, pois na sua opinião “para alguém ser profissional tem de conseguir viver daquilo que faz” e em Portugal, comparado com outros países, poucas organizações “têm capacidade para oferecer condições melhores aos seus jogadores”.


“Devido a esta diferença de apoios em relação a muitos outros países, as minhas equipas sempre foram semiprofissionais”, confessa Gonçalo “wh1tE” Gonçalves, como é conhecido no mundo do Esports.


Essa falta de condições fez com que essas equipas onde jogou não pudessem focar-se a 100% no gaming “e ter de conciliar os horários de universidade e trabalho dos cinco jogadores, de forma a conseguir treinar, limitando sempre o número de horas”.

Gonçalo Gonçalves em competição

A necessária mudança de mentalidades

Mesmo assim, com a paixão pelo jogo à flor da pele, os treinos eram “todos os dias da semana, sempre que fosse possível de tarde e de noite, contra equipas estrangeiras” para que pudessem melhorar o seu nível de jogo, segundo o jogador.


Considerando que as equipas estrangeiras “têm um nível de jogo muito melhor” que as portuguesas, “o que torna tudo mais difícil”, a experiência de Gonçalo em torneios presenciais nacionais e internacionais revela que no estrangeiro “as coisas são organizadas de forma muito mais profissional e evoluída”, enquanto que em Portugal “está a começar a ser desenvolvido e a entrar num bom caminho”.


Um dos exemplos que recorda foi em Paris, quando participou na Electronic Sports World Cup (ESWC), uma competição que reúne as melhores equipas de cada país: “Foi algo que ainda não consigo descrever muito bem. Foi de outra dimensão e uma sensação que nunca tinha vivido em Portugal”, confessa Gonçalo ao JA.


“A nossa participação e resultado não foram os melhores e saímos com o sentimento que podíamos, com outro tipo de treino, conseguir resultados muito melhores. Praticamente todas as equipas presentes eram profissionais, viviam do jogo e estavam habituadas a grandes palcos, enquanto nós nem recebíamos vencimento na altura. Apesar de tudo, foi uma experiência que nunca vou esquecer pois conheci grandes jogadores e tive oportunidade de representar o nosso país”, revela.


Já em Portugal, a história é outra. Atualmente, Gonçalo Gonçalves lamenta que no Algarve, após o encerramento do Farowest, na capital de distrito, não exista “nenhum tipo de iniciativa para dinamizar o gaming”.


Esse espaço era como um ciber-café, que tinha 20 computadores e bar, além de ser uma área de convívio para os amantes do gaming, onde eram organizados torneios “que dinamizaram, dentro do possível, algumas equipas da região”, mas desde que encerrou que “não existe nada nessa área que possa fazer crescer a comunidade algarvia”.


Para desenvolver a cultura gaming na região e no resto do país, “wh1tE” considera que a modalidade precisa de “ter visibilidade e cativar público” através de torneios presenciais “que mostrem à sociedade a dimensão do gaming, e quando existirem esse tipo de iniciativas é preciso que a comunidade que prefere jogar no conforto de casa se desloque e que participe nas mesmas”.


A mudança de mentalidades é outros dos aspetos que o jogador vilarealense gostava de ver alterada, pois a maioria das pessoas pensa que “o gaming é só jogar em casa”, além de alertar para que se veja o que é feito “por esse mundo fora” nesta área para “ir desenvolvendo a nossa comunidade à nossa escala e consequentemente a ideia da sociedade perante o gaming”, concluiu.


Em setembro, Gonçalo Gonçalves vai voltar a jogar CS de forma competitiva e espera que o seu retorno ao cenário gaming “seja positivo”.

Ruben Barbosa é jogador de CS desde 2006

Algarve precisa de apostar no gaming

Ruben Barbosa, de 27 anos e natural de Faro, é também jogador de CS desde 2006, mas foi só cinco anos mais tarde que percebeu “que se podia chegar longe” a jogar online de maneira competitiva.


Ao início, “jogava casualmente e com pessoas mais velhas”, mas quando saiu a versão do jogo “Counter-Strike: Global Offensive” (CS:GO) “foi sempre a jogar até hoje. Nunca parei e nunca fiz pausas”, confessou “Derps”, como é conhecido neste mundo, ao JA.


Apesar de nunca ter pertencido a uma equipa verdadeiramente profissional devido à falta de aposta em Portugal na área do gaming, a partir de 2015 o jogador algarvio começa a participar em alguns torneios mais pequenos, que lhe abrem algumas portas.


No ano seguinte, Rúben foi ao qualificador da ESWC, representando a academia “For The Win”, tendo ficado classificado em segundo lugar e com a oportunidade de ir jogar a Paris.


Em França, na mesma competição, a equipa acabou por ficar pela fase de grupos, mas com “bons resultados”.
“A partir desse torneio, consegui chegar aos grandes palcos nacionais”, revelou Rúben ao JA.


Mas para chegar a este patamar mais profissional, Rúben esteve em frente ao seu computador, “entre 6 e 8 horas diárias” de treinos e discussões de estratégias com a sua equipa, sempre com paixão por aquilo que faz.


“Para mim representa tudo. Foi neste jogo que conheci e fiz amigos, viajei por Portugal, Espanha e França. Conheci e fiz fãs e vivi muitas alegrias”, confessou o jogador ao JA.


Para quem vive no Algarve existem algumas dificuldades logísticas, apesar de maior parte dos jogos acontecerem online, nada se compara “a jogar lado a lado com amigos”, uma vez que se aprende “muito mais rápido”.


No entanto, na região algarvia não existem este tipo de torneios como acontece noutras zonas do país nem existe “um sítio com bons computadores onde se possa ir jogar” como a antiga Farowest.


Este conceito é uma ideia que Rúben gostava de ver desenvolvida na região, além de “criar torneios com prémios apelativos que façam deslocar Portugal inteiro para o Algarve”.


“A partir daí, vem o resto. Mas, principalmente, têm de existir eventos no Algarve para os mais jovens, para que no futuro todos possam conhecer melhor este ambiente”, salienta.


Para Rúben, é possível viver apenas dos videojogos em Portugal, mas para isso é necessário ter uma equipa e fazer live streamings dos seus jogos através de plataformas online como a Twitch ou o Youtube.


“Só existem três ou quatro equipas em Portugal que pagam acima dos 500 euros. E mesmo assim, esse valor não é suficiente para pagar uma renda e alimentação. O que acontece é que muitos jogadores vivem em casa dos pais sem despesas”, explica Rúben ao JA.


Quando o jogador algarvio tinha entre os 16 e 17 anos e queria participar em algum torneio noutra zona do país, “não existiam organizações que pagassem as viagens, estadia ou comida”, sendo o próprio a ter de pedir aos pais, como acontecia com muitos outros players.


No entanto, “hoje em dia é quase tudo pago pela equipa que representas mas, mesmo assim, evitam ter esses custos”, revela.

Gonçalo Dourado

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