População de cavalos-marinhos “aumenta ligeiramente” na Ria

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O cavalo-marinho é uma espécie indicadora da qualidade ambiental, por isso funciona como um alerta para as ameaças que o sistema lagunar da Ria Formosa enfrenta

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Há pouco mais de sete anos, a Ria Formosa tinha a maior densidade de cavalos-marinhos do mundo. Mas 90 por cento desapareceu inexplicavelmente. Os especialistas alertam que, apesar do ligeiro aumento verificado nos últimos tempos, a espeécie continua vulnerável

DOMINGOS VIEGAS

Segundo um estudo realizado há cerca de 16 anos (em 2000), a Ria Formosa era o local com maior densidade populacional de cavalos-marinhos a nível mundial. Porém, menos de uma década depois, os especialistas verificaram um decréscimo considerado “dramático”, superior a 90%, devido a causas ainda hoje desconhecidas.

Entretanto, estudos mais recentes demonstraram que a abundância populacional das duas espécies que habitam a Ria Formosa, “apesar de estar longe dos valores anteriormente observados”, registou “um ligeiro acréscimo” comparativamente aos estudos que tinham sido realizados em 2009, explica o Departamento do Algarve do Instituto da Conservação na Natureza e das Florestas (ICNF).

Apesar das causas concretas do desaparecimento das populações de cavalos-marinhos na Ria Formosa ainda não estarem identificadas, os especialistas sabem que a poluição sonora subaquática, a degradação ambiental, a pesca, bem como situações naturais, são fatores que “têm um impacto significativo e contribuem para um fracionamento continuado” destas populações.

O ICNF recorda que os cavalos-marinhos são espécies “carismáticas” e “particularmente vulneráveis” devido à sua biologia peculiar. “São espécies que providenciam cuidados parentais a pequenas proles, possuem fraca mobilidade e elevada dependência relativamente ao seu habitat”, explicam os especialistas.

Além da referida vulnerabilidade, há ainda o facto destas espécies habitarem zonas costeiras de baixa profundidade, onde a atividade humana é mais acentuada e as perturbações ambientais são mais frequentes e severas. Este fator “leva a que as suas populações se encontrem ameaçadas à escala mundial devido à degradação ambiental, captura acessória em artes de pesca e sobre-exploração para utilização em medicinas tradicionais e aquariofilia”, acrescentam os mesmos especialistas.

Refira-se que as duas espécies de cavalos-marinhos da Ria Formosa são o cavalo-marinho-de-focinho-comprido (Hippocampus guttulatus) e o cavalo-marinho-de-focinho-curto (Hippocampus hippocampus), ambas sujeitas aos mesmos problemas.

Paralelamente, os investigadores descobriram que as estruturas artificiais podem ser utilizadas com sucesso na reabilitação do habitat destas espécies, no entanto “continuam a ser necessários outros estudos para avaliar as causas ambientais e antropogénicas que levaram à diminuição populacional registada”.

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Símbolo da Semana da Ria Formosa

Recentemente, o cavalo-marinho foi escolhido como símbolo da Semana da Ria Formosa, uma iniciativa dedicada aos valores ambientais e culturais daquele espaço natural e que decorrerá de 4 a 8 de abril, precisamente com o objetivo de alertar para a atual situação de declínio da espécie.

“Ao ser uma espécie indicadora da qualidade ambiental, funciona como um alerta para as ameaças que o sistema lagunar da Ria Formosa enfrenta”, explica a organização.

A Semana da Ria Formosa tem como público alvo a comunidade escolar dos concelhos do Parque Natural da Ria Formosa. “Pretende difundir informações, bem como estimular o conhecimento e práticas que possam incrementar a consciencialização e o reconhecimento da importância daquela zona. Pretende-se, assim, contribuir para a construção de uma consciência ecológica conducente à preservação do património natural e cultural”, referem os responsáveis.

Trata-se de uma iniciativa do ICNF que, além daquele instituto, junta mais 16 entidades: Cinco câmaras municipais (Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António), os serviços regionais da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares, a Agência Portuguesa do Ambiente, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, a Universidade do Algarve, a Autoridade Marítima do Sul, a Águas do Algarve, a ALGAR, o RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens, a Associação Almargem e os centros de ciência viva do Algarve (Faro) e de Tavira.

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CAVALO-MARINHO, UMA ESPÉCIE MUITO CURIOSA

Os machos engravidam!
A fêmea deposita os seus ovos numa bolsa que o macho tem no abdómen, tendo o macho a tarefa de os criar até ao nascimento. Quando os ovos eclodem os pequenos cavalos-marinhos são libertados pelo macho através de contrações que podem durar até 12 horas. As crias são independentes após o nascimento e somente uma em um milhar sobrevive até à idade adulta.

São peixes…
Eles não parecem os peixes típicos, mas estão classificados como tal, devido às seguintes características: a bexiga natatória para controlar a flutuabilidade, guelras para respirar e barbatanas para os propulsarem na água.

…mas não têm escamas
Os cavalos-marinhos não têm escamas, o seu corpo é constituído por um exoesqueleto que consiste em placas rígidas fundidas entre si.

Adoram comer
Os cavalos-marinhos realmente adoram comer. Eles alimentam-se constantemente de pequenos crustáceos, para satisfazer um elevado metabolismo de modo a se manterem vivos. As crias podem ingerir umas impressionantes 3000 porções de alimento por dia!

Acasalam para a vida?
São criaturas monógamas por cada ciclo reprodutor. A sua corte inclui uma dança em que exibem várias cores, nadando lado a lado e em redor um do outro.

Exímios na arte da camuflagem
Estas criaturas são especialistas em esconderem-se no meio onde vivem. Algumas espécies até podem mudar de cor corporal para se misturarem com o meio, enquanto outras já têm a cor adequada, forma, tamanho e textura para se confundirem com corais.

Uma cauda invulgar
A sua cauda preênsil permite-lhes agarrarem-se a ervas marinhas e outras algas evitando que sejam arrastados por correntes fortes e ondas.

Maus nadadores
Os cavalos-marinhos são maus nadadores. O que os torna diferentes dos outros peixes, é que nadam numa posição vertical. A barbatana dorsal bate a 30-70 vezes por segundo para os propulsar, as barbatanas peitorais ajudam à estabilidade e ao rumo.

Olhos funcionam independentemente
Os cavalos-marinhos têm um grande sentido de visão. Os seus olhos movimentam-se independentemente um do outro, de modo a estarem sempre conscientes do meio que os rodeia.

Têm poucos predadores
Os cavalos-marinhos são muito rígidos e indigestos para a maioria das espécies com quem coabitam, assim não têm muitos predadores com que preocupar. No entanto, a grande ameaça para a sua sobrevivência são os humanos, que os capturam a um ritmo mais elevado do que aquele a que eles se conseguem reproduzir.

Fonte: ICNF

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(Reportagem publicada na edição impressa e semanal do Jornal do Algarve de 03/03/2016)

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