Mais de 20 anos depois do fim da guerra civil da Bósnia, o antigo chefe político dos sérvios bósnios, Radovan Karadzic, fica hoje a saber qual é o veredicto do Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPI-J) sobre as 11 acusações de genocídio e outros crimes de guerra que pendem sobre si.
O longo processo judicial contra Karadzic por alegados crimes contra a humanidade cometidos contra minorias étnicas do país durante a guerra da Bósnia (1992-95) chega assim ao fim, oito anos depois de ter sido detido em Belgrado, a capital da Sérvia onde viveu mais de uma década à vista de todos fazendo-se passar por um curandeiro.
O tribunal especial foi criado em Haia em 1993 para julgar os responsáveis pelo genocídio de croatas e de bósnios muçulmanos, durante a guerra civil que provocou mais de 100 mil mortos e 2,2 milhões de deslocados. Esta quinta-feira o painel de juízes a cargo do processo de Karadzic anuncia se o considera culpado desses crimes.
O fundador da Republika Srpska (RS, a entidade política que hoje partilha a Bósnia a par da Federação croato-muçulmana) é particularmente acusado pelo TPI-J de ter ordenado o massacre de Srebrenica e o cerco a Sarajevo, os dois ataques massivos que são considerados as piores atrocidades cometidas na Europa desde a II Guerra Mundial.
Ontem, na véspera da leitura da sentença, o ex-dirigente sérvio bósnio, agora com 70 anos, defendeu as suas ações em entrevista à BIRN, uma rede regional de informação sobre temas de Justiça internacional. “Sei o que queria, o que fiz e o que sonhei. Não existe um tribunal razoável que possa condenar-me. Combati permanentemente para manter a paz, impedir a guerra e reduzir o sofrimento de todas as pessoas, independentemente da religião”, garantiu, dizendo esperar ser absolvido.
Em setembro de 2014, o procurador do TPI-J tinha declarado que “a prisão perpétua é a única pena apropriada” para Karadzic pelo facto de, “sob o seu comando, os subordinados e os que com eles colaboravam” terem “expulsado, matado, torturado e maltratado centenas de milhares de muçulmanos e croatas”.
Joana Azevedo Viana (Rede Expresso)