Redes sociais deslumbram portugueses

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Mais do que uma moda passageira, as redes sociais, como o Facebook e o HI5, vieram para ficar. Esta é uma das principais conclusões do estudo “A Utilização da Internet em Portugal 2010”. Gustavo Cardoso, professor do ISCTE e coordenador científico deste trabalho explica porquê.

As redes sociais, como o Facebook, “vieram para ficar porque, na realidade, não têm nada de novo”. Quem o garante é o professor do ISCTE e coordenador científico do estudo “A utilização da Internet em Portugal 2010 “, recentemente divulgado.

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Para Gustavo Cardoso , “o seu sucesso tem que ver com a interface tecnológica porque as redes sociais são a base daquilo que nos faz humanos que é viver em sociedade e comunicar de forma organizada”.

Em entrevista ao Expresso, o investigador analisa os principais resultados deste estudo e traça os cenários mais prováveis para o futuro próximo.

Menos de metade da população portuguesa usa atualmente a Internet. Em 2003, ano em que este estudo foi realizado pela primeira vez, eram 29% e em 2010, 44,6%. Que análise faz a este ritmo de crescimento?
Estamos a ter o crescimento possível, dentro do nosso contexto. Estamos a chegar a todos os níveis etários e de educação que podíamos chegar. Abaixo dos 15 anos resolvemos a questão, em grande medida, com a massificação do Magalhães, que está a permitir a utilização, cada vez mais cedo, da Internet. O problema surge nos maiores de 55 anos.

55,4% daqueles que não navegam a Internet, dizem que não vêm qualquer interesse na sua utilização. Como é possível alterar esta situação, na medida em que se tratam de pessoas que recusam uma realidade que nunca experimentaram?

Através de políticas públicas ativas ou de intervenções dos operadores de mercado. Há alguns anos, quer as empresas de telecomunicações quer o Estado, procuravam divulgar a existência para os públicos mais jovens. Atualmente, as crianças deixaram de estar no centro das campanhas e toda a atenção deverá voltar-se para os mais velhos.

Ora, só pensando da forma como pensam os mais velhos é que será possível conquistá-los para a literacia digital. Será sempre mais difícil, porque essas pessoas não estão na escola, nem em qualquer outro sítio de uma forma massificada e organizada.

Como é útil, quer para o Estado, quer para operadores de mercado, que esse grupo de pessoas passe a usar a Internet, terão de chegar a acordo sobre a forma de repartir os planos de investimento. Trata-se aqui, não de alargar o mercado, mas de criar um novo mercado.

Neste momento, e de acordo com o estudo, apenas 2,6% dos portugueses têm um smartphone. A forma como se usa a rede será diferente quando a utilização deste tipo de dispositivos for generalizada?
Há uma mudança de paradigma. Começámos a usar a Internet para tudo aquilo que fosse possível, recorrendo a um browser (navegador) onde inserimos endereços. À medida que popularizarmos mais estes telemóveis passamos a ter aplicações para fazer coisas através da Internet em vez de recorrer a um browser para fazer tudo.

Verificamos que, aquilo que mais usávamos no anterior modelo, como por exemplo as redes sociais ou o correio eletrónico, serão as aplicações que depois se usam mais quando se comprar um smartphone .

Opinião em privado

A Internet ainda é, sobretudo, um meio de comunicação e entretenimento. Que outros tipos de utilizações deverão ganhar mais relevo nos próximos anos?
Todas aquelas que têm a ver com o campo da comunicação. Há três fenómenos que têm vindo a ganhar maior notoriedade. No campo da informação os conteúdos produzidos pelos utilizadores; no campo do entretenimento são as trocas de ficheiros de conteúdos culturais; no campo da comunicação são as redes sociais que apesar de terem muita notoriedade pública, ainda não são usadas pela maioria dos utilizadores da Internet.

Os portugueses fazem um uso criativo da Internet?
Cada vez fazem mais coisas, porque também são cada vez mais valorizadas em termos de grupo. Claro que, entre alterar o meu estado numa rede social ou escrever um blogue, vai um salto muito grande. Um blogue para ser lido, por exemplo, tem de respeitar algumas regras básicas. Tem de ser bem escrito e ter algum interesse. Ora, nem todas as pessoas reúnem essas capacidades e o treino necessário para o fazer. Os estudos disponíveis demonstram que os blogues são escritos, sobretudo, por profissionais da escrita.

Mas o que é necessário fazer para aumentar a participação?
A maior parte das pessoas não tem participação pública, ou seja, não dá aulas, escreve artigos ou faz palestras. Isso não quer dizer que as pessoas não tenham opinião. O que acontece é que elas manifestam as suas opiniões em circuitos fechados. No Facebook, por exemplo, a maior parte da comunicação ocorre em circuitos fechados. Aquilo que é mais fait divers é comunicado publicamente. Aquilo que é mais importante, normalmente, é comunicado em privado.

Redes sociais vieram para ficar

As redes sociais, usadas por 56,4% dos internautas portugueses, vieram para ficar ou são uma moda passageira?
Vieram para ficar porque, na realidade, não têm nada de novo. A única coisa que mudou foi a interface tecnológica. O seu sucesso tem que ver com a interface tecnológica porque as redes sociais são a base daquilo que nos faz humanos que é viver em sociedade e comunicar de forma organizada.

Como é que explica que o Facebook se destaque das restantes em termos de crescimento?
Mas não se destaca. O Facebook é um fenómeno global, mas as redes sociais são globais e regionais ao mesmo tempo. Na Rússia, Ucrânia e nos países da Ásia central a rede social dominante é o Vkontakte que é um clone do Facebook, até em termos de design gráfico. Em Espanha, o Facebook lidera mas em segundo lugar surge o Tuenti . No Brasil domina o Orkut mas o Facebook continua a crescer. Em Portugal, é muito provável que o Facebook se tenha tornado desde junho a primeira rede, ultrapassando o HI5 .

É claro que o Facebook tem um crescimento exponencial que resulta, por um lado, da notoriedade da marca, e por outro, do facto de quanto mais cresce uma rede, maior é probabilidade de ter mais pessoas a aderir.

Mas qual é em seu entender o segredo do sucesso do Facebook?
O Facebook conseguiu saltar do nicho anglo-saxão para o resto de mundo e tornar-se um enorme sucesso por uma simples razão: ao começar no campo da universidade de Harvard e ao passar para outras universidades, numa primeira fase, e depois para as empresas onde trabalhavam os antigos alunos, criou um ponto de partida extremamente cosmopolita. Dito de outra forma, os internautas que começam por aderir a esta rede são cidadãos cosmopolitas globais. Neste sentido, a matriz de origem do Facebook distingue-se claramente da do Orkut ou do HI5.

Ora, a partir do momento em que o Facebook é uma rede global, torna-se mais difícil aparecer uma nova rede global.

vídeo da entrevista pode ser visualizado no seguinte endereço:
http://aeiou.expresso.pt/video-redes-sociais-deslumbram-portugueses=f616169

Carlos Abreu/Rede Expresso

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