Turistas ajudam a transformar Culatra numa eco-ilha

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A Universidade do Algarve (UAlg) e a Associação Make it Better desenvolveram planos de ação para diversos territórios com o objetivo de definir estratégias para a criação de novas tipologias turísticas que aliem sustentabilidade ambiental à inclusão social. A ilha da Culatra foi um dos locais eleitos para integrar o projeto internacional ‘Sustowns’. A missão passa por envolver turistas, visitantes e a comunidade na “transformação turística” da ilha, sem pôr em causa a autenticidade daquela comunidade piscatória e dos seus valores naturais

O projeto ‘Sustowns’ visa promover um turismo mais sustentável em pequenas cidades costeiras de grande valor histórico, pequenas ilhas do litoral e pequenas cidades do interior, ao longo da bacia do Mediterrâneo. A iniciativa comunitária, financiada pelo Programa INTERREG-MED da União Europeia, tem em consideração o desenvolvimento económico e social, as mais valias de cada território, mas também temas de impacto social e ambiental como as alterações climáticas, a crise pandémica, a sobrelotação de turistas, os conflitos geopolíticos e a inclusão social.

Foi no âmbito deste projeto que foi apresentado, dia 30 de maio, no polidesportivo do clube União Culatrense, o Plano de Ação para o Turismo Sustentável na ilha da Culatra – “um documento estratégico para o turismo no núcleo piscatório da Culatra” – explica ao JA José Nunes, presidente da Make it Better, a Organização Não Governamental, responsável pela elaboração e implementação do Plano.

Tal como explica o responsável, o objetivo da criação do Plano tem um duplo foco: “por um lado proteger os recursos naturais e culturais da área mediterrânica e por outro lado promover um turismo mais responsável, sustentável, que esteja ligado a produtos e serviços turísticos de melhor qualidade”, esclarece.

O Plano de Ação é baseado num diagnóstico de necessidades e nas grandes políticas regionais e nacionais para o turismo. Até existir uma versão final do Plano, foram escutados diversos stakeholders (as partes interessadas), envolvendo câmaras, empresas, associações, cidadãos e a comunidade local, nomeadamente os residentes da ilha e os representados das três principais coletividades: a Associação Nossa Senhora dos Navegantes, o Clube União Culatrense e a Associação de Moradores da Culatra.
Apesar da pandemia, José Nunes conta que foi possível reunir informação e “com o auxílio de consultores externos e da Universidade de Évora” foram compiladas as medidas que dariam resposta às necessidades detetadas no diagnóstico, ou seja, os problemas da ilha foram transformados em medidas práticas para mitigar as consequências do turismo massificado naquele território.
O documento é constituído por seis eixos estratégicos, entre os quais se podem encontrar medidas como a “geração de um mecanismo local de governança turística”, a “articulação, parceria e cooperação com entidades e entre os próprios agentes locais” e a “capacitação dos recursos humanos”, um dos alicerces do projeto. Nesse sentido, no dia 30 de maio, para além da apresentação do Plano, foi também dado a conhecer à comunidade o projeto ‘Formação +Próxima’ – um programa do Turismo de Portugal, disponível nas escolas de hotelaria e turismo e que gratuitamente, vai permitir aos agentes locais ter acesso a um leque variado de ações de formação em matéria de sustentabilidade.


“Queremos sensibilizar as pessoas para terem consciência que quando entram na Culatra estão a pisar um território com características muito particulares do ponto de vista ambiental”, reforça o CEO da Make it Better. Por isso, adianta que já está a ser distribuído um “Manifesto de Visitante Responsável” (em papel reciclado), onde são elencadas as boas práticas e dados conselhos para uma estadia sustentável na ilha. No fundo, o projeto quer recrutar e cativar o turista para ser parceiro da transição verde e um embaixador da mudança naquele ecossistema.
Sílvia Padinha, presidente da Associação de Moradores da Ilha da Culatra, diz que o Plano, elaborado com a colaboração da Câmara Municipal de Faro, “vai ao encontro daquele que tem sido o objetivo da associação de moradores: a defesa da identidade cultural da ilha e a defesa do meio”. Com o Plano, a presidente espera que se respeitem “os valores naturais da ilha e os seus moradores”, levando todos a ganhar um sentido de “responsabilidade socioambiental”, sentido esse que é “transponível a todos os parques naturais do país”, na visão de José Nunes.
Em termos práticos, daqui em diante, vão existir indicadores espalhados pela ilha com informação que ajuda o visitante a aproveitar a sua riqueza natural, mas com sentido de responsabilidade. Tudo isto para “garantir que a identidade cultural e natural da Culatra não se perde” e para que o visitante “saiba que existe uma comunidade local”, sublinha Sílvia Padinha. A curto prazo, o projeto inclui ações de sensibilização em formato digital, com QR Codes nos diversos cais marítimos, por exemplo.
O turista será o parceiro da iniciativa ‘Culatra 2030’, juntamente com moradores, representantes e empresas que, em conjunto, estão unidos para dar início ao processo de transição energética daquele território. Para isso, e para quem quiser ajudar, foi criado o ‘Fundo Ambiental Social da Ilha da Culatra’, a partir do qual será possível concretizar, até 2030, a descarbonização da ilha, a retirada de amianto das telhados, combater a pobreza energética e fazer daquele um local livre de plástico.
O Plano de Ação para o Turismo Sustentável na Ilha da Culatra tem uma duração de três anos.

Joana Pinheiro Rodrigues

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