Vitor Neto desafia região para reflexão profunda

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Presidente do NERA faz o Raio-X económico regional em entrevista ao JA.

Empresário, ex-secretário de Estado do Turismo e presidente da Associação Empresaria da Região do Algarve (NERA), Vitor Neto continua a ser uma personalidade de destaque na região não só pela experiência e trabalho como também pela sua capacidade de análise crítica que sai das fronteiras comuns. Ao JA falou sobre a necessidade de afirmar a região em termos económicos e políticos e deixou algumas sugestões e desafios

Jornal do Algarve – O que é que a região pode fazer por si mesma para recuperar da atual crise?
Vitor Neto – Considero que o Algarve continua a ser uma região extraordinária com um potencial incrível do ponto de vista do desenvolvimento turístico. Hoje, impõe-se uma reflexão não apenas sobre este momento mas sim sobre os últimos anos para sabermos onde estamos, o que fizemos e quais são as causas da situação em que nos encontramos.
Se pudesse, desafiaria os algarvios responsáveis e os cidadãos em geral para uma reflexão sobre a evolução do Algarve pelo menos nos últimos dez anos. Penso que essa reflexão seria fundamental porque existem duas perspetivas diferentes para responder à pergunta que me faz.
Posso responder conjunturalmente, ou seja, dizer que nos últimos anos estava tudo a correr bem mas depois surgiu uma crise, criaram-se algumas dificuldades e tivemos uma ligeira quebra, mas que neste momento já temos sintomas que a vida está a retomar e há a ideia que vamos melhorar … e que rapidamente tudo irá retomar o seu caminho. Esta é uma fotografia que eu posso fazer de dois ou três anos da situação e dessa fotografia tirar esta conclusão.
Mas também posso responder de outra forma: atenção que a crise que vivemos nos últimos anos é só uma parte daquilo que se passou nos últimos anos.
Vejamos apenas dois dados. Há dez anos atrás o Algarve representava 50 por cento das dormidas em alojamento classificado de todos os estrangeiros que se dirigiam a Portugal. Em 2010, o Algarve só representou 40 por cento dessas dormidas e não houve nenhum crescimento extraordinário das dormidas dos estrangeiros que vieram a Portugal nestes anos. Portanto, o Algarve perdeu 20 por cento da sua quota das dormidas de estrangeiros. Aliás, o Algarve teve menos três milhões de dormidas de estrangeiros em 2010 do que as registadas em 2001, com uma quebra significativa de ingleses. Não se passou nada?
Só nas dormidas do turismo interno as coisas correram um pouco melhor, tendo a sua quota a nível nacional passado de 25 para 27,5 por cento.
Mas, se analisarmos a linha de evolução destes dez anos em praticamente todos os índices o que temos é uma estagnação e até uma quebra do turismo no Algarve. É com isto que me preocupo e acho estranhíssimo que as pessoas que falam sobre o assunto se limitem a falar e a comparar taxas de ocupação semanais ou mensais. Nunca há uma análise plurianual da situação.
JA – Porquê?
VN – Acho que é… porque não convém muito. Porque ao longo dos anos, os vários responsáveis e entidades, foram sempre apresentando cada ano como melhor que o anterior, cada mês como melhor que o anterior, cada trimestre como melhor que o anterior… Agora têm dificuldade em dizer porque é que ao final de uma década temos menos três milhões de dormidas de estrangeiros do que tínhamos há dez anos. Porque é que o Aeroporto apesar de ter crescido, se descontarmos os passageiros com destino a Espanha e que a própria ANA diz que são entre cinco a sete por cento… se demonstra que há uma quebra desses passageiros na região? Temos os empresários hoteleiros que dizem que as taxas de ocupação passaram de 55 para 40 por cento. O número de dias de estadia diminuiu, temos a parte comercial e a restauração a dizer que as suas vendas também sofreram uma quebra. Temos uma série de índices que importa analisar. Acho estranho que apesar da nossa força enquanto destino turístico – que quanto a mim é enorme e está intacta apesar das asneiras que já fizemos – não se consiga refletir além da semana ou do mês… Eu percebo… é porque é incómodo do ponto de vista das (várias) responsabilidades…
JA – O Algarve anda então a viver a conta-gotas?
VN – O Algarve anda a (…)

[Entrevista publicada na íntegra na edição papel do Jornal do Algarve de 14 de julho e 2011]

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